sábado, junho 26, 2010

Evocando novamente Couto Viana

A propósito de uma mesquinha polémica recentemente ocorrida, bem demonstrativa do primarismo mental de quem a provocou, apetece-me evocar novamente Couto Viana.

A Minha Terceira Grande Guerra

Menino, ouvi que a pátria da minha Mãe, a Espanha,
Fuzilava, vermelha, na fronteira
Que o rio Minho banha,
O fidalgo, o burguês, o padre, a freira.

Logo a minha cidade
Se encheu de fugas precipitadas.
E havia mais convívio e liberdade
No cinema, nos jardins, nas esplanadas.

Falava-se galego em toda a parte.
E eu via, com alegre sobressalto,
Um comboio de víveres que parte;
Um jovem se alista, braço ao alto.

Morrera minha Avó ao cercarem Oviedo.
González Peña, seu sobrinho,
Combatia em Madrid. Mas isto era um segredo
Que feria a família como a espada do espinho.

O hino Cara al Sol, com letra tão bela,
Cantava-o minha Mãe. Clarim nos meus ouvidos!
E, enquanto eu me sonhava de guarda a cada estrela,
Sem distinção de credos, era Ela
Que me punha a rezar por todos os caídos!

António Manuel Couto Viana, de "O Senhor de Si", in "António Manuel Couto Viana - 60 Anos de Poesia", Lisboa, Imprensa Nacional, 2004.

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