sábado, maio 17, 2008

Ainda o Papa e a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X


Causou evidente comoção entre alguns bons leitores deste espaço, especialmente do Brasil, merecendo mesmo reacção crítica de alguém que muito admiro, o último artigo que o meu amigo Rafael Castela Santos escreveu sobre o ponto da situação das relações entre o Vaticano e a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X. Não irei agora analisar esse artigo, tanto mais que o Rafael já prestou as suas explicações na caixa de comentários respectiva, mas antes dar a minha opinião sobre o tema de fundo que lhe subjaz.

Primeiramente, mentiria se dissesse que não fiquei desiludido com o facto de a FSSPX ainda não ter conseguido chegar a um acordo - que tanto desejo - com Roma; porém, se bem li o comunicado de Monsenhor Fellay, permanecem abertas todas as portas a um diálogo com vista à consecução de tão almejado fim.

É verdade que logo após a publicação do "Summorum Pontificum" defendi aqui o seguinte: "(…)incumbe agora aos tradicionalistas cerrarem fileiras à volta do Papa Bento XVI, gloriosamente reinante, e protegerem-no das investidas selvagens dos lobos modernistas e progressistas"; contudo, não posso deixar de compartilhar as preocupações manifestadas por alguns dos nossos leitores na caixa de comentários, tendo sempre presente que a prudência é por excelência uma virtude cristã. A este respeito, relembro o que o próprio Rafael escreveu em Outubro de 2007, também n'"A Casa de Sarto", e que subscrevo na íntegra:

"Santo Padre: si Su Santidad no nos protege y ampara, quedaremos una vez más a la intemperie, y no por nuestra voluntad, sino por la terquedad y empecinamiento de muchos miembros del Alto Clero y algunos Sacerdotes enfangados en el modernismo –y quién sabe si a veces en cosas peores-. Nosotros no somos católicos tradicionalistas para estar contra Roma o contra el Papa. Todo lo contrario: somos tradicionalistas para estar más con Su Santidad y para ser más romanos si cabe. Santo Padre: le necesitamos. Necesitamos su paternal y providencial tutela. Necesitamos que nos defienda y que impida el socavamiento activo y pasivo del apostolado de la Tradición.Yo no soy canonista, pero estoy seguro de que Su Santidad puede blindar la Tradición. Blindarla para que no sea atacada, erosionada y disminuida. Y blindarla, también, para que no sintamos esa intemperie que a nadie beneficia. ¿Qué hijo pequeño no quiere estar con su madre? ¿Qué madre solícita dormiría tranquila sabiendo que uno de sus pequeñuelos está amenazado, solo y en peligro? ¿Cree que nosotros, simples católicos tradicionalistas de a pie, no añoramos la presencia cálida y maternal, la protección y el amparo de la Santa Madre Iglesia? ¿Quién soy yo para decirle a Su Santidad si una Prelatura Personal, un Patriarcado especial u otra institución canónica es el mejor modo de conseguir esto? Lo que sí me atrevo, humildemente, a expresar a Vuestra Santidad es, precisamente, que queremos estar dentro de la Iglesia pero no para ser hostigados, sino para aportar nuestro grano para que la Fe sin mancha vivifique de nuevo a toda la Iglesia.Su Santidad sabe mejor que nadie, porque el Vicario de Cristo en la tierra sigue gozando de Gracias que nadie más tiene, que el tiempo se nos acaba. No sólo nuestro tiempo personal, pues la Hermana Muerte Corporal puede estarnos esperando a la vuelta de la esquina más próxima, sino el tiempo de este mundo que se precipita hacia el Juicio de las Naciones sin katechon alguno que lo frene. Su predecesor Pablo VI dijo que “el humo de Satanás” había entrado en la Iglesia como consecuencia del Vaticano II. ¿No será entonces mejor motivo para mejor servir a Dios en este mundo y darle Gloria aquí y en el más allá el que la Tradición disipe esos vapores tóxicos y malignos como la luz del amanecer disipa las tinieblas? Como hijo fiel que respeta y venera profundamente a Su Santidad me atrevo a preguntarle con confianza filial, ¿no contribuiría ese blindaje de la Tradición, un blindaje que sólo nos puede dar hoy por hoy el Vicario de Cristo en la tierra, al bien común de la Iglesia?"

Ora, é meu humilde juízo que uma vez garantida por Sua Santidade o Papa Bento XVI a pretendida "blindagem da Tradição", a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X deverá colocar imediatamente um ponto final ao litigio que a opõe a Roma, dado que não é cismática, nem sedevacantista. Assegurada pela pessoa do Sumo Pontífice a salvaguarda da obra de defesa da tradição que a Fraternidade ergueu nestes últimos quase quarenta anos e asseverado que a mesma não será estiolada, nem cairá sob a jurisdição dos hereges modernistas que ao nível episcopal continuam a ser legião, o estado de necessidade que a FSSPX invoca para justificar a sua situação excepcional terá cessado, devendo esta assumir em pleno a sua nova situação jurídica de total regularidade canónica, através da qual se verá definitivamente livre dos rótulos injustos e infames de "excomungada" e "cismática" que ainda a atormentam, pesem todas as clarificações prestadas nos tempos mais recentes por Sua Eminência o Cardeal Castrillón. Desta maneira, permitirá que o combate de defesa da tradição ganhe redobrado alento e dinamismo, atraindo para o seu seio novos fiéis desiludidos com o modernismo e progressismo, em especial jovens.

Contrapor-me-ão alguns leitores que a crise na Igreja continua, que o Papa persiste na defesa do falso ecumenismo do pós-V2 (o que até nem é totalmente correcto), bem como de outras posições doutrinariamente menos claras, ao que eu replico insistindo:

I) Monsenhor Lefebvre fundou a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, no ano de 1970, para servir a Igreja num momento de crise gravíssima, tendo em vista a ordenação de bons sacerdotes com sólida formação católica tradicional que a pudessem socorrer durante a feroz tormenta que na altura já atravessava; porém, nunca foi sua intenção criar uma igreja paralela, mas antes incardinar tais sacerdotes pelas dioceses do mundo inteiro;

II) A Fraternidade não é cismática, nem sedevacantista, tendo sempre reconhecido o Primado de Pedro e, como tal, a obediência legítima que a este é devida;

III) Em 1988, Monsenhor Lefebvre não hesitou em negociar um acordo com Roma, mau-grado o gravíssimo escândalo que o Papa João Paulo II havia provocado dois anos antes com a realização do encontro ecuménico de Assis.

É certo que a crise na Igreja subsiste, e com que enormidade!

Atente-se ao infame caso português. Missas celebradas segundo o rito tradicional latino-gregoriano fora das capelas da FSSPX, nenhuma! Abusos litúrgicos no "Novus Ordo" paulino, uma constante! Episcopado cismontano, hostil em maior ou menor grau ao Papa, e indigente ao nível doutrinário! Seminários diocesanos que ministram uma deficientíssima formação de pendor totalmente modernista e progressista! Sacerdotes que de teologia conhecem tão-só hereges notórios e perversos como Teilhard de Chardin, Karl Rahner ou Leonardo Boff, que repudiam a obra de São Tomás de Aquino à revelia do recomendado pelos Papas Leão XIII e São Pio X, que tomam como bispo exemplar o apóstata francês Jacques Gaillot, e que se comportam sem o decoro que o seu especialíssimo estado exigiria! Enfim, leigos que se afirmam praticantes, mas que não passam de "católicos" de letreiro e cismáticos "de facto", pelo modo público, reiterado e raivoso como desprezam o magistério eclesial, renegando-o com a defesa que fazem do divórcio, da anticoncepção artificial, do aborto, da eutanásia, da ordenação sacerdotal de mulheres e do desdém da lei natural, quando não arremetem com raiva infernal contra dogmas de fé como a infalibilidade papal, a natureza propiciatória do Santo Sacrifício da Missa, ou mesmo a Imaculada Conceição, a Virgindade Perpétua de Nossa Senhora e a Ressurreição de Cristo!

É óbvio que o Santo Padre Bento XVI não corrobora este estado de coisas, o qual não é um exclusivo português, e, desde que subiu ao Trono de Pedro, tem vindo a dar sinais crescentes de ser sua firme intenção pôr-lhe um cobro. Demonstram-no a sua condenação da hermenêutica da ruptura inerente ao "espírito do V2"; o discurso de Regensburg; a promulgação do "Summorum Pontificum"; a prossecução da reforma da reforma litúrgica de 1969 com os altares decorados em estilo beneditino e as celebrações oficiadas "ad orientem", em latim e com recurso ao gregoriano, num ambiente perfeitamente tradicional de grande reverência, sacralidade e elevação espiritual; a publicação da encíclica "Spe Salvi", recordando aos homens os novíssimos - Morte, Julgamento, Céu ou Inferno - como nenhum Papa o havia feito no pós-V2; ou a clarificação de que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica; tudo factos que já diferenciam grandemente o seu pontificado dos desastres que foram os de Paulo VI e João Paulo II, como de resto o reconhece um ilustre tradicionalista que bastante prezo.

Contudo, um Papa isolado nada pode, mau-grado todo o discernimento que o Espírito Santo lhe conceda. Há dois anos, o Padre Domenico Bartolucci, maestro da Capela Sistina, dizia que o Santo Padre era um Napoleão sem generais. Creio que tais declarações não se podem tomar completamente à letra, pois é impossível ignorar o precioso auxílio que o Cardeal Castrillón, Monsenhor Malcolm Ranjith, Monsenhor Guido Marini ou até o Bispo Athanasius Schneider têm prestado a Bento XVI. Mas estes, por si sós, não bastam. O Papa, conforme o presenciaram as Beatas Isabel Canori Mora ou Jacinta de Fátima nas suas visões, continua cercado por quase todos os lados por lobos rapaces, inimigos de Cristo, que se empenham em sabotar as intenções pontifícias, precisando assim de mais generais fiéis que se saibam manter firmes no combate sem tréguas nem quartel que é a defesa da Santa Igreja Católica.

Em face do que disse, que melhores ajudantes de campo poderia ter nesta luta o Sumo Pontífice, que não Monsenhores Bernard Fellay, Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta, secundados por todos os sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, mais o seu poderoso arsenal doutrinário não poluído pela heresia modernista e solidamente ancorado na tradição? Para que os consagrou Monsenhor Lefebvre, se não para o momento crucial que se aproxima? Portanto, se Pedro blindar a tradição e lhes pedir auxílio para a luta, não deverão em hesitar acorrer-lhe pronta, diligente e pressurosamente. "Se o Papa me chama, eu vou, aliás eu corro. Isto é certo. Por obediência. Por filial respeito para com o chefe da Igreja."

Viva a FSSPX! Viva o Papa!

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