domingo, julho 31, 2005

A caminho da República Universal - 2

Já falei anteriormente neste espaço sobre a figura e o papel do agente provocador na sociedade contemporânea: cabe-lhe servir de charneira entre a esfera pública para onde lança a discussão das chamadas questões fracturantes e os conciliábulos discretos onde as mesmas são longamente medradas, possibilitando assim que aqueles que pululam nestes últimos possam manter incólume a sua aparência de respeitabilidade burguesa e moderação. E eis aqui a razão da intensíssima, ainda que aparentemente paradoxal, promoção que estes agentes costumam receber por parte dos meios de comunicação social às ordens do sistema: ao darem propositadamente dois ou três passos para a frente, todos os que se limitam a dar apenas um passam por modelos de ponderação; e assim, sucessiva e indefinidamente, se vai realizando a revolução silenciosa gramsciana.

Ora é exactamente na categoria de agente provocador que recai um tal Bob Fergunson, supostamente um anódino professor reformado canadiano, que veio a público defender a tese de que o Estado, mais do que controlar a prática da religião, deve proceder à sua total regulamentação, determinando o seu conteúdo, definindo o que pode ou não ser doutrinariamente ensinado, proibindo quaisquer restrições ao acesso ao sacerdócio com base no estado civil ou sexo do candidato, enfim decretando que este seja exercido somente por quem possua expresso consentimento das autoridades públicas. É bom de ver que o alvo a atingir por Bob Fergunson, circunstância que o próprio nem sequer esconde, é a Igreja Católica. Tão inadmissíveis declarações podem ser lidas aqui. Muito mais estranho é que as mesmas tenham sido proferidas aos microfones da Canadian Broadcasting Corporation (CBC), e por esta estação pública canadiana difundidas para a sua audiência, factualidade que por si só afasta a possibilidade de nos encontrarmos perante um mero lunático, pois nestas matérias jamais existem acasos, como costumava ensinar Charles Maurras…

De resto, esta ocorrência só prova que o Canadá, talvez o país à face da terra onde o despotismo politicamente correcto e a tirania do relativismo ético-moral são mais intransigentes, é cada vez menos um local sério, apostado que está em disputar o título de "Nova Sodoma" com a Holanda.

Retornando a Bob Fergunson, pouco mais há a dizer deste mísero serventuário da República Universal anticristã. De recordar apenas que as suas declarações espezinham dois mil anos de tradição ocidental de separação entre Deus e César (que nada tem a ver com o laicismo de matriz jacobina…), constituindo uma abusiva proposta de regalismo estatolátrico, na medida em que o Estado, porque subsequente a Deus e à verdade divina, jamais pode ter a pretensão de definir aquela verdade, que necessariamente o antecede. E a verdade, essa é a adequação da inteligência à realidade, e não o contrário, como julga a mentalidade democratista…

Assim, perante este circunstancialismo, defendamos o Dogma da Fé da perseguição feroz, aberta e sem subtilezas que a "religião" democrática e antropolátrica já iniciou contra ele, relembrando antes de mais que no "Syllabus" o Papa Pio IX condenou expressamente a seguinte proposição:

"A Igreja não é uma sociedade verdadeira e perfeita, plenamente livre, e não dispõe dos direitos próprios e permanentes que lhe foram conferidos pelo seu divino Fundador, mas o poder civil pode definir esses direitos da Igreja, e os limites dentro dos quais os pode exercer".

JSarto

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