sábado, abril 24, 2004

O 25 de Abril de 1974

Pela minha parte, não há grande coisa para dizer sobre o 25 de Abril de 1974. Basta-me recordar que se a tão falada democracia - com todas as críticas que a mesma merece - existe hoje em Portugal, isso sucede não só por causa dele, mas também apesar dele e sobretudo até contra ele. As intenções de boa parte dos seus fautores, muito mais do que instaurar uma democracia de modelo ocidental em Portugal, era a de transformar o país numa Cuba da Europa, submetido a uma tirania comunista similar às que então existiam para lá da cortina de ferro. Outro não era o desiderato da cáfila de traidores, criminosos e até alucinados mentais que, por efeito dessa data, se alcandorou ao poder e onde se incluíam nomes como os de Costa Gomes, Otelo Saraiva de Carvalho, Rosa Coutinho, Pezarat Correia, Vítor Crespo, Carlos Fabião, ou Vasco Gonçalves. E, de resto, tal viu-se no modo como essa mesma corja destruiu o espaço ultramarino português, entregando as populações nativas que se haviam acolhido sob a bandeira portuguesa ao pior dos despotismos, de que o paradigma mais infame é o nojento abandono à sua própria sorte dos comandos africanos da Guiné.

Se tais projectos totalitários não conseguiram ser concretizados na metrópole, isso deve-se muito mais à resistência que o povo anónimo português, sobretudo no Norte, soube opor a tais intentos, suportado em boa parte pela Igreja Católica - apesar de algumas abencerragens progressistas, como não poderia deixar de ser depois do Vaticano II, terem alinhado com os elementos da dissolução - e pelos sectores das Forças Armadas que se souberam manter fiéis ao seu juramento para com a pátria, onde se destacou naturalmente o Regimento de Comandos. Até o tão propalado combate de Mário Soares ao comunismo só ocorreu depois de, no dia 1 de Maio de 1975, aquele ter sido impedido de comemorar o Dia do Trabalho nas antigas instalações da F.N.A.T., na Avenida do Rio de Janeiro, em Lisboa, junto aos elementos afectos à Intersindical e ao Partido Comunista. Só nessa altura se dirigiu para a Alameda Dom Afonso Henriques o mesmo Mário Soares que até então se afirmava marxista-leninista, e que jamais pestanejou perante as eliminações do Partido do Progresso e do Partido da Democracia Cristã e as tentativas de destruição do Centro Democrático Social e até do Partido Popular Democrático.

Outrossim, não se fale que o 25 de Abril de 1974 é progresso económico: constitui até uma interessante reflexão teórica o imaginar-se quais seriam hoje os níveis de desenvolvimento de Portugal se o tecido empresarial nacional não tivesse sido, nessa época, abruptamente destruído na sua quase totalidade em nome de um fanatismo ideológico que, a quinze anos da queda do Muro de Berlim, se sabia à saciedade ser absolutamente ineficaz do ponto de vista produtivo. A esse modelo socialista imposto pelos abrileiros, o país ficou a dever duas crises económicas monstruosas, uma em 1978 e outra em 1983-1985, dois humilhantes acordos com o F.M.I., um enorme endividamento externo e uma inflação devastadora, bem como a fuga da quase totalidade do investimento estrangeiro, e isto tudo com todas as repercussões sociais absolutamente ruinosas daí decorrentes. Se Portugal conseguiu, mais ou menos, sair desse ciclo desastroso, tal deve-se unicamente ao abandono dos dogmas doutrinários que os revolucionários de 1974 tentaram impor.

Finalmente, do ponto de vista católico tradicional que inspira este blogue, convém relembrar que o 25 de Abril de 1974, para além de ser animado, como se viu, por um espírito que contradizia directamente o ensinamento social dos Papas em encíclicas como a "Rerum Novarum" ou a "Divini Redemptoris", não hesitou em ensaiar uns laivos de perseguição religiosa à maneira da República Espanhola de 1934, como o exemplificam o cerco ao Patriarcado, a ocupação da Rádio Renascença e destruição à bomba dos seus emissores, o enxovalho imposto ao então Arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, no aeroporto de Lisboa, despojado das suas vestes eclesiásticas à vista de toda a gente, e enfim, por último mas não menos importante, as abjectas campanhas de dinamização cultural, nas quais, entre outros aspectos, se mofava da forma mais torpe, asquerosa e repugnante possível da pureza da Mãe de Deus.

Associando-me às comemorações da data supra, publico, abaixo, um poema de António Sardinha - "Portugal Crucificado" - e um célebre trecho do "Diário" do grande e insuspeito prosador Miguel Torga.

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